Palmeiras no exterior: Como acompanhei o clube nos tempos de intercambista
No longínquo ano de 2009, realizei dois intercâmbios. Passei quatro meses em Barcelona, na Espanha e outros quatro em Vancouver, no Canadá. O objetivo era aprender a língua local e voltar tinindo. Tudo isso foi desenhado um ano antes, mas àquela altura, uma das minhas preocupações já era: como vou acompanhar o Palmeiras?
O Facebook ainda era um mistério e estava longe daquela explosão que observamos em 2012. O Instagram sequer existia, mas o Orkut ainda bombava. A princípio, era ele que me daria algumas informações do dia a dia, além dos tradicionais portais que acompanhamos até hoje. Eu não tinha laptop e meu celular era de flip. Como se não bastasse, o fuso horário não me favorecia. Se aqui os jogos na Libertadores aconteciam às 22h, lá na terra de Antoni Gaudí seriam 3h, enquanto no Canadá, o relógio apontava quatro horas a menos.
Descobri o Velho Continente no rigoroso inverno. Os dias, muito curtos. Noites, longas. Lembro que um dos primeiros questionamentos que fiz na escola em que estudei e dentro da casa que fiquei foi sobre o futebol brasileiro. O quanto eles conheciam? A Libertadores era exibida por lá? A maioria dos torcedores culés com quem conversei não sabiam muita coisa. Pra não falar que não sabiam nada. Já torcedores um pouco mais entendidos, claro, sabiam quem era o Palmeiras. E naquela altura, especificamente, sabiam bem: o clube catalão estava de olho em Keirrisson e grande parte da imprensa dava como certa sua ida pra lá.
Dito isso, já havia me conformado que não acompanharia a saga do Palmeiras na fase de grupos da Libertadores, tampouco no Campeonato Paulista. Estava ansioso por um possível bicampeonato com o Vanderlei Luxemburgo no comando, o que obviamente, acabou não acontecendo. Eu regressaria apenas em maio e só assistiria alguma coisa caso o clube avançasse, como aconteceu. Logo que cheguei ao Brasil, vi uma eliminação doída para o Nacional, do Uruguai. Mas, isso é outra história.
Em toda minha estadia em Barcelona, tive que me contentar em assistir apenas um jogo: contra o Corinthians, no Campeonato Paulista, em 8 de março. E o roteiro tinha exatamente a cara do Palmeiras. Levamos um gol nos acréscimos de Ronaldo, com direito a quebra de alambrado e torcida rival eufórica. Além da imprensa mundial, é claro. Era um craque que estava voltando ao Brasil após muito tempo e o davam como aposentado.
Para assistir essa partida foi uma luta. Como mencionei, eu tinha só um celular flip sem acesso à internet. Os tempos eram outros. Aqui no Brasil, tínhamos algo que hoje praticamente não existe mais (ou não existe mesmo): lan house. A minha missão era saber se em Barcelona eles sabiam o que era isso. E, sabiam.
Dei uma rápida descrição do que era uma lan house e logo me falaram que por lá, chamavam de locutorio. Por sorte, alguém que trabalhava na escola conhecia um locutorio por perto. Ou não tão perto assim. Me prontifiquei a ouvir atentamente as coordenadas de como chegar lá. E fui. Não sem me perder algumas vezes por aquela linda cidade, o que não era nada desesperador, se não fosse pelo horário da partida que se aproximava e queria chegar o mais rápido possível.
Lembro que cheguei na lan house catalã e logo expliquei ao atendente que pelo amor de Deus, que liberasse logo meu computador, em tom de brincadeira, que o Palmeiras estava jogando contra o Corinthians de Ronaldo. Ele, cujo nome não me lembro mais, se interessou e pediu que eu o chamasse tão logo o craque entrasse para que ele também pudesse ver. Ronaldo fez história na Espanha, jogando tanto pelo Barcelona como pelo Real Madrid. Embora alguns culés torcessem um pouco o nariz pela “traição” que ele cometeu ao ir para o maior rival, a admiração por ele era nítida.
Quando consegui achar um link decente para ver o jogo, já estávamos vencendo por 1 a 0. Dos poucos minutos que vi da primeira etapa, jogamos melhor, mas era claro que tudo poderia mudar. O segundo tempo começou e a torcida não parava de gritar o nome do Ronaldo. Havia uma comoção para que Mano Menezes promovesse a entrada dele. Não poderia ser diferente.
Enquanto o atendente me perguntava como estava o jogo, eu explicava que estávamos melhores e Ronaldo logo entraria, porque a pressão era grande. Recorrendo ao Google, vi que ele entrou aos 18 minutos do segundo tempo e o chamei para assistir comigo. Por quase 20 minutos, assistimos juntos aquela partida que logo entraria para a história.
Pouco antes do inesquecível gol do Fenômeno, o solícito e simpático atendente teve que… Atender. Lembro que poucos minutos depois, Ronaldo meteu a cabeça na bola nos acréscimos e fez o gol, empatando a partida. Eu, instintivamente, dei um soco na mesa e gritei “filho da puta, vai tomar no cu”. Os computadores eram separados por divisórias, mas percebi que todo mundo tentou olhar ali o que estava acontecendo. Afinal, é um tipo de palavrão que quem fala só castelhano, consegue entender.
O atendente riu da minha reação e veio correndo ver o que estava acontecendo. E perguntou como foi o gol. Ainda estavam exibindo o replay. A partida já estava no fim e meu tempo na lan house, que era de duas horas, ainda estava um pouco longe do fim, mas preferi encerrar por ali e ir para casa.
No final de abril, houve aquela partida que muitos consideram memorável: Cleiton Xavier chutando de fora da área contra o Colo Colo, garantindo a classificação do Palmeiras nas oitavas da Libertadores. Não cogitei assistir a partida. Como disse, seriam 3h em Barcelona e eu acordava cedo. Fiquei sabendo de como tudo aconteceu no dia seguinte e me animei como qualquer torcedor, claro. Mas, não senti a emoção que quase todos sentiram aquele dia.
O Palmeiras no Canadá
Na terra do Maple Leaf, desembarquei em agosto, três meses depois de voltar ao Brasil. Naquela janela, o Palmeiras se recuperava do baque de cair para o Nacional na Libertadores e focava no Brasileirão, cujo título não era visto há 15 anos.
Mas, dessa vez foi diferente. Cheguei em Vancouver em um domingo. Na segunda-feira, comprei meu primeiro laptop, um Compac, por cerca de 400 dólares canadenses com um brasileiro, Leandro, na loja Best Buy. Lembro perfeitamente que ele tentava me convencer a comprar um monte de seguro e garantias estendidas que eu não estava interessado. Como desculpa, disse que eu não estava autorizado a gastar mais e teria que ter o aval da minha mãe. E não é que ele pediu que eu ligasse para ela do telefone dele? Pois é… Liguei. Pasmem. Mas, acabei não fazendo nada do que ele sugeriu.
O computador serviu, dentre outras coisas, para que eu pudesse acompanhar os jogos do Palmeiras no Canadá. Foi lá que eu estava criando a expectativa, além dos milhões de torcedores, que o clube poderia finalmente sair da fila do Brasileirão em 2009. O time estava voando e liderou boa parte do certame. No fim, vocês sabem o que aconteceu.
Cheguei ao Brasil em 6 de dezembro daquele ano, justamente na véspera da última rodada do Campeonato Brasileiro. A esperança era pelo menos vencer o jogo contra o Botafogo e ir para a Libertadores 2010, o que também acabou não acontecendo. E a temporada se transformou em fracasso e frustração.
2009 foi um ano diferente pra mim em todos os aspectos, e como torcedor não podia ser diferente. Sair com a camisa do Palmeiras por aquelas bandas era quase como a certeza de interagir com brasileiros, fosse com outros palmeirenses ou rivais. Na Espanha, amavam futebol, mas no Canadá os esportes eram outros.
Avanti.