Poucos clubes no Brasil tem técnicos para chamar de ídolo. Com as frequentes mudanças no comando à beira do gramado, poucos profissionais do ramo podem se orgulhar em ser vistos dessa maneira. No Palmeiras, acredito que dois nomes são praticamente unanimidade entre a torcida: Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari, nosso glorioso Felipão.

O primeiro chegou em 1994, numa época que tenho minhas primeiras lembranças, como relatei aqui no primeiro texto do blog. Luxemburgo chegava como um jovem promissor e cheio de ideias arrojadas, fazendo o Palmeiras jogar como o torcedor gosta: pra frente e plasticamente bonito. Mais do que isso, fazendo muitos gols.

Luxemburgo foi um dos responsáveis por nos tirar de uma fila interminável e nos colocar na rota de títulos. Tem sua importância, e apesar de ter treinado rivais e muitos outros times no país, sempre teve uma relação diferente (acredito eu, claro) com o Palmeiras. Sua volta em 2020, embora tenha sido uma tragédia anunciada, rendeu um título Paulista, que não víamos desde 2008, quando também éramos comandados por ele. Nos últimos 45 anos, apenas ele conquistou Paulistas por aqui.

Ele ainda conquistaria, nos anos 90, outros títulos importantíssimos, como Campeonato Brasileiro, Rio-São Paulo e uma marca importante no Paulistão 1996, quando a equipe marcou mais de 100 gols.

Naquele tempo, o Palmeiras rivalizava com o Grêmio, uma das maiores interestaduais. E eis que em 1997, chegava Felipão justamente de lá. Jogando de uma maneira diferente daquela de Luxemburgo, mas ainda mais vitoriosa, trazendo taças como a Copa do Brasil, Mercosul e Libertadores. Sua maneira vibrante e pulsante que conduzia a equipe conquistou os palmeirenses e se tornou um dos maiores técnicos que comandou o clube. Para mim, o maior.

Felipão saiu, foi campeão do mundo com a seleção em 2002, teve brilhante passagem por Portugal, uma um pouco questionada pelo Chelsea, e voltou ao Palmeiras em 2010, quando o clube vivia tempos de vacas magras. Depois de uma temporada 2009 frustrante com a perda do Brasileirão, Felipão chegava como a salvação da lavoura e nos levou até semifinal de uma Copa Sul-Americana em 2010, que foi também uma das grandes frustrações que carrego até hoje como torcedor. Perder para o Goiás estava fora de cogitação. Mas, enfim…

O gaúcho conseguiu um feito naquela passagem: levar o Palmeiras ao bicampeonato da Copa do Brasil em 2012 com um elenco limitadíssimo e repleto de problemas e desfalques naquela final contra o Coritiba. A promessa era que ele ficasse para a disputa da Libertadores 2013, mas o iminente rebaixamento acabou atrapalhando tudo.

O cara era demais. Brigava com jornalistas, com a Globo, falava em nome do clube, mandava o Flamengo “vender a Gávea” para comprar o Kléber. Se comportava pouco como profissional e muito como torcedor de arquibancada. Nesse aspecto, talvez nunca tenhamos um técnico assim de novo.

Um técnico que talvez pudesse ter chegado perto de Luxemburgo no quesito ídolo era Cuca. Identificado com o clube, nos tirou da fila do Brasileirão após 22 anos, mas saiu ao fim da temporada. Retornando sem muito sucesso cerca de cinco meses depois, em 2017.

Oras, mas aonde quero chegar com tudo isso? Calma.

É muito difícil se firmar como técnico-ídolo do Palmeiras. Pra não dizer que é quase impossível nos tempos atuais. Mas, a chegada de Abel Ferreira pode estar escrevendo um novo capítulo. Mas, novamente: calma. Temos que ir com calma.

Seu início foi avassalador. Em menos de seis meses, faturou uma Copa do Brasil e Libertadores. Esta última, apenas Felipão conseguiu pelo clube. Converso com vários torcedores do Palmeiras, e me surpreendi com comentários que Abel “ultrapassou” Felipão neste quesito. Muitos disseram que “empatou”. Luxemburgo, então, ficou no chinelo. Mas… Calma.

O português está trilhando um caminho maravilhoso, mas daí a querer compará-lo com Felipão e Luxemburgo pra mim, é injusto. Estão em outras prateleiras. E aí temos que analisar tudo: contexto histórico, identificação, condições, etc. Abel ganhou duas competições importantes, querer ser uma lenda, como principalmente Felipão é, falta muito. Muito mesmo.

Como disse, Luxemburgo nos tirou de uma fila de anos em 94. Seguiu por anos com títulos importantes. Vencemos contra o Corinthians numa final de Brasileirão. Voltou a nos tirar da fila em 2008. Só ele vence Paulistão pelo clube desde 1976.

Felipão ganhou nosso maior título até pouco tempo. Seu brio à beira do gramado saltava aos olhos. Acho até hoje que sua demissão em 2019 foi muito injusta, mas tem uma história irretocável. Nos tirou da fila de novo em 2012 com um elenco questionável, pra não dizer outra coisa.

Como Abel chega e já pode ser comparado? Agora, depois de perder três títulos seguidos, acredito que isso esteja sendo reavaliado pelos eufóricos. Quando nem deveria ser ventilado. Mas, isso é Palmeiras, né?

Espero que a torcida e diretoria tenham paciência com ele para que continue escrevendo essa história e quem sabe, aí sim, colocá-lo na mesma prateleira que Luxemburgo e Felipão. Mas ainda falta muito.

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